domingo, 8 de setembro de 2013

Sobre adeus, partidas e pontos finais.



Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Fernando Pessoa



E sempre foi assim: ela cresceu, viveu e não fosse essa força mágica que faz com que a gente aprenda a mudar, talvez morresse com a ideia de que rupturas e pontos finais necessariamente tenham que doer e que não sendo suficiente doer, necessitem ser uma dor visceral, dilacerante e destruidora.

Mas num belo dia de primavera, ela descobriu a verdade: as coisas não precisam funcionar assim! Pode sim, ter ruptura, ponto final e um "até daqui a pouco até nunca mais" e não doer, ou ter no máximo aquela dor incômoda que no final das contas vira só mais uma cicatriz dessas que a gente carrega pela alma e no coração e que fazem parte da nossa história. 

Ela concluiu que acontece toda hora, muito mais do que a gente acha razoável,  e que essa vida não é nada muito diferente do que esse enorme ir e vir de tudo e de tantos.

Ela procurou os porquês, tentou explicar, mas não chegou a muitas conclusões satisfatórias: acúmulo de distâncias, esfriamentos, mágoas, algumas vezes até um pouco de raiva e sabe-se-lá quantas coisas mais, essas sensações todas tão feias, sufocam, entristecem e desencantam tanto que chega um momento que é mais fácil simplesmente deixar pra lá e ir embora. 

Durante quase toda sua vida as coisas aconteceram assim, e foi dessa maneira que muitas de suas amizades acabaram, paixões esfriaram, pseudo-amores eternos viraram cinzas, coisas foram deixadas pelo caminho e muitos, mais muitos, finais justificaram-se.

Mas chegara num ponto da vida que contrariando toda lógica e tudo o que até então ela ouvira, ela descobriu que dá sim pra deixar o outro ir embora ( e sentir quase nenhuma dor) e sobreviver, que dá pra guardar do passado só o que é bonito,  que ponto final também tem beleza e que às vezes rompimento vem só pra mostrar o quanto a gente é mais forte do que pensa que é.

É foi assim que ela aprendeu encarar partidas com delicadeza, intensidade e entrega. Não entrega resignada, mas entrega de quem sabe que a vida também é feita de partidas. E foi com essa consciência e força que pessoas e situações da vida dela foram eliminadas sem um pingo de dó e nem piedade. 

Ela aprendeu a parar com essa história (burra) de dar primeiras, segundas e décimas chances, de carregar culpas que nem dela eram,  passar a mão na cabeça de quem se dizia amigo, aguentar seres movediços, cuja existência justifica-se apenas em sugar o que ela tinha melhor, desde a energia, o tempo até a paciência.

Libertação! 

Acabaram-se os medos de encarar a quebra de um vínculo.
- "Vacilou? A porta está aberta meu bem, só lembre-se que for, talvez não haja volta. "

Alguns disseram que isso era egoísmo, e ela deu de ombros e disse que talvez até fosse, mas que a lição aprendida ela guardaria, e era que tem horas que a gente precisa parar de ser bom com os outros e precisa aprender a ser bom primeiramente - com a gente. 

Finais – exasperantes ou não – fazem parte desse ciclo chamado vida, e quiçá, isso seja uma dádiva, porque só cabe o que é novo quando se esvazia o lugar que o que é velho ocupa. Chegadas e partidas, é disso que a vida é feita e talvez seja por isso que ela valha tanto a pena.


*Escrito em setembro de 2012 - (Mas poderia ser hoje)

Um comentário:

  1. Seu post foi um tanto quanto fortalecedor para mim, pois sinto a cada dia mais a necessidade de tomar uma decisão, mas pelo medo do sofrimento e arrependimento vivo adiando essa decisão que tanto necessito, talvez a resposta como demonstrado em alguns pontos do post para estes medos seja uma nova maneira de encarar esses possíveis sentimentos que podem vir a me causar alguma dor.

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