terça-feira, 24 de setembro de 2013

Das cartas não enviadas - Coisas que não sei




Saber das coisas sem precisar dizê-las em voz alta.
Uma loucura muy louca isso que de tão escancarado não tem como não dizer que não, embora ninguém diga que sim.
Olho para o lado mais vezes do que gostaria, porque tento remediar coisa que já sei que é pra vida toda e então me vejo perdida.
Qual a imagem que você desenhou de mim? A que te faz feliz? A que dá conta de tuas faltas? Talvez eu não seja essa pessoa, porque sou atrapalhada, não sei viver em paradezas e não sei sossegar.
E você talvez também não seja essa minha pessoa, embora eu ache lindo quando você me diz que não quer se perder de mim ( talvez até uma das coisas mais lindas que já ouvi na vida).
Eu não posso te amar, ou podendo, talvez não deva.
Mas considerando que ainda assim eu ame, então me deixa te amar como eu posso, enumera os prós e contras e decide se quer meu amor.
Quanto a mim, nesse momento, só sei te amar assim, envolta em laços que perfazem nós, que por sua vez me prendem, ética, moral, espiritual, sentimental e sei-lá quantos mais "mentes".
Eu poderia sim, amar-te de outra forma, mas te amaria aos meios e então quem não me amaria seria você, porque o que amas mais em mim do que minha inteireza, do que minha capacidade de sentir aquilo que há de mais profundo? Não haverias de amar um amor desbotado que por certo haveria de ser, então eu te peço, deixa que eu te ame da maneira que posso, aceita do jeito que é, talvez não te baste, mas é sincero, inteiro e puro. Sempre nesse mundo há algo que não nos basta, então, que para você isso seja meu amor.
Já dizia a canção que amor sem sexo é amizade, me pego pensando que algumas vezes amor sem sexo é quando um basta ao outro, e só. Você, e apenas você, me basta. Do resto eu não sei.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Do equilibrio (que me falta)





E nos últimos dias que passaram, enquanto algumas angústias se acentuaram mais, outras, até quase sumiram e o que resta disso tudo, é uma porção de fragmentos de prazeres e tristezas que se espalham por ai quando eu ando tão cheia de sentimentos aleatórios.
Nada de novidades, diria alguém que me conhece, essa sou eu e minha mania de exagero, de tudo tão ao extremo, eu não sei viver sem derramar, eu me transbordo toda.
Paradoxalmente, sigo na intensa batalha em busco daquilo que considero minha palavra favorita: equilíbrio.
De tudo isso, resolvi que pra continuar vivendo é necessário manter algumas ilusões, nutrir encantamentos, ficar de boca fechada de vez em quando e parar de teorizar tanto. – Ou para continuar vivendo feliz, ao menos.
Todo mundo quer um amor que seja eterno, amizades leais até o fim, tudo com muito significado, intensidade e felizes para sempre.
- Querer, até aí tudo bem, só que a gente esquece a parte ruim, somos humanos, e o tal do humano é o bicho mais complicado que existe, e isso porque ele sente, e de repente no conto de fadas o que você quer mesmo é ser a bruxa má, quer se vingar, beber até não conseguir parar em pé e sair andando por aí na contramão, rir e chorar, de uma vez só, misturado e exagerado.
Não sei se vidas e histórias bonitas precisam ser perfeitas, talvez perfeição possa ser bem substituída pelo equilíbrio, e por mim, abro mão dela.
Aliás, coisa que passo mesmo longe é a tal da perfeição, levo meus dias apenas vivendo minhas verdades e com a única convicção que imutável, é o que eu não sou e jamais serei. O resto, me parece ser tudo uma grande bobagem.
Você sabe o que é visceralmente desejar não esperar nada de ninguém? Até tento, mas eu sou falha, lembra? Espero ver vidas um pouco mais sinceras, continuar com a minha e saber que ela não será assunto na mesa de alguém.
Equilíbrio, sigo tomando em doses homeopáticas, porque o muito vazio ou o muito cheio dele são igualmente ruins, enquanto isso, grandes tristezas e grandes alegrias, tudo grande demais, coisa que é mesmo de mim, acho até que vem de infância.
Nesse momento, em silencio, numa solidão que me faz quase miserável, rego minhas feridas com lágrimas, mas ainda sim não deixo de caminhar, é como diz a sabedoria popular: “o que não tem remédio, remediado está.”

terça-feira, 17 de setembro de 2013

As flores de plástico não morrem




Flores.
Lindas e mortas.
Quiçá um espelho.
Flores em cores vivas
Vida artificial, ilusão mecânica dos sentidos.
Flores com laços e fitas.
Enfeites frios para convencer a existência de uma vida.
(Que já não há).
Flores sem cheiro.
Um sentido, olfato. 
Um cheiro, uma marca.
Flores sem raiz. 
Flores lindas, mortas e artificiais

(fakes - não exalam perfume algum, mas em compensação nunca morrem).


*Título da música Flores, imagem daqui.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Daquilo que se é

“Se não fossem as minhas malas cheias de memórias
Ou aquela história que faz mais de um ano
Não fossem os danos
Não seria eu.”


Dia desses me disseram que só é possível mensurar se algo é bom ou ruim pelas consequências que ela traz, e eu que já reclamei tanto da minha vida me vejo tendo que aprender a engolir as reclamações e agradecer as pesadas malas de memórias que carrego e mais do que isso, ter amor pelos meus danos e cicatrizes: sem eles eu não seria eu.

“Se não fossem as minhas tias com todos os mimos
Ou se eu menino fosse mais amado
Se não desse errado
Não seria eu.”


Como é que a gente aprende a amar caminhos tortos? Vida que é toda errada? Essa teoria toda de agradecer sempre, até pelo ruim, como é que pratica? Tem fórmula? Chega mesmo esse momento na vida que alcançamos esse nível de sabedoria e compreensão de entender e agradecer pois se não desse tudo errado, "eu não seria eu"?

“Se o fato é que eu sou muito do seu desagrado
Não quero ser chato
Mas vou ser honesto
Eu não sei o que você tem contra mim
Você pode tentar por horas me deixar culpado
Mas vai dar errado
Já que foi o resto da vida inteira que me fez assim.”


A vida é isso meu bem, a vida é isso: esperar e desesperar, ou não esperar coisa alguma, mas a vida é isso: em algum tempo decepcionar em outro decepcionar-se, ter alguém com algo contra, S-E-M-P-R-E, por melhor que sejam suas intenções.
Já tive a sensação nada agradável de carregar culpas que não era minhas, já carreguei pessoas que me doeram em tempo integral, duzentos baldes de lágrimas, três meses de cara inchada e deu tudo errado, a vida me fez pra feliz.

“Se não fossem os ais
E não fosse a dor
E essa mania de lembrar de tudo feito um gravador
Se não fosse Deus
Bancando o escritor”


E essa natureza teimosa de aceitar a dor, mas nunca o sofrimento? Essa natureza burra, de além de sentir visceralmente a minha dor, acatar a dor alheia e guardar, não por escolha, mas por ter essa memória de gravador, as cores, os cheiros, os sons, as sensações, tudo por ad eternun. Sem tudo isso, eu seria eu?

“Se não fosse o mickey e as terças feiras e os ursos pandas e o andar de cima da
Primeira casa em que eu morei e dava pra chegar no morro só pela varanda se
Não fosse a fome e essas crianças e esse cachorro e o Sancho Pança se não fosse o
Koni e o Capitão Gancho
Não seria eu.”


Se não fosse meu amor pelas coisas que ninguém mais amaria, os significados nas coisas mais insignificantes, uma dor no coração porque um parque está abandonado e porque não tem mais meu refresco favorito no único café que eu realmente acredito que valha a pena frequentar, ou uma mania idiota de todos os dias olhar a capela mortuária pra ver se alguém morreu e rezar pela alma dessa pessoa que eu nem conheci, ou a minha mania fútil de mensalmente comprar sapatos pela internet, se não fosse meu pai que morreu quando eu tinha cinco anos, se não fosse a história da vizinha do cinco que outro dia me trouxe um bolo delicioso apesar de todos seus problemas, se não fosse a moça problemática que me fez tanto mal, e se não fosse a dor, não, eu não seria eu.

Brincando de interpretar a música  Capitão Gancho da Clarisse Falcão que você pode ouvir aqui

domingo, 8 de setembro de 2013

Sobre adeus, partidas e pontos finais.



Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Fernando Pessoa



E sempre foi assim: ela cresceu, viveu e não fosse essa força mágica que faz com que a gente aprenda a mudar, talvez morresse com a ideia de que rupturas e pontos finais necessariamente tenham que doer e que não sendo suficiente doer, necessitem ser uma dor visceral, dilacerante e destruidora.

Mas num belo dia de primavera, ela descobriu a verdade: as coisas não precisam funcionar assim! Pode sim, ter ruptura, ponto final e um "até daqui a pouco até nunca mais" e não doer, ou ter no máximo aquela dor incômoda que no final das contas vira só mais uma cicatriz dessas que a gente carrega pela alma e no coração e que fazem parte da nossa história. 

Ela concluiu que acontece toda hora, muito mais do que a gente acha razoável,  e que essa vida não é nada muito diferente do que esse enorme ir e vir de tudo e de tantos.

Ela procurou os porquês, tentou explicar, mas não chegou a muitas conclusões satisfatórias: acúmulo de distâncias, esfriamentos, mágoas, algumas vezes até um pouco de raiva e sabe-se-lá quantas coisas mais, essas sensações todas tão feias, sufocam, entristecem e desencantam tanto que chega um momento que é mais fácil simplesmente deixar pra lá e ir embora. 

Durante quase toda sua vida as coisas aconteceram assim, e foi dessa maneira que muitas de suas amizades acabaram, paixões esfriaram, pseudo-amores eternos viraram cinzas, coisas foram deixadas pelo caminho e muitos, mais muitos, finais justificaram-se.

Mas chegara num ponto da vida que contrariando toda lógica e tudo o que até então ela ouvira, ela descobriu que dá sim pra deixar o outro ir embora ( e sentir quase nenhuma dor) e sobreviver, que dá pra guardar do passado só o que é bonito,  que ponto final também tem beleza e que às vezes rompimento vem só pra mostrar o quanto a gente é mais forte do que pensa que é.

É foi assim que ela aprendeu encarar partidas com delicadeza, intensidade e entrega. Não entrega resignada, mas entrega de quem sabe que a vida também é feita de partidas. E foi com essa consciência e força que pessoas e situações da vida dela foram eliminadas sem um pingo de dó e nem piedade. 

Ela aprendeu a parar com essa história (burra) de dar primeiras, segundas e décimas chances, de carregar culpas que nem dela eram,  passar a mão na cabeça de quem se dizia amigo, aguentar seres movediços, cuja existência justifica-se apenas em sugar o que ela tinha melhor, desde a energia, o tempo até a paciência.

Libertação! 

Acabaram-se os medos de encarar a quebra de um vínculo.
- "Vacilou? A porta está aberta meu bem, só lembre-se que for, talvez não haja volta. "

Alguns disseram que isso era egoísmo, e ela deu de ombros e disse que talvez até fosse, mas que a lição aprendida ela guardaria, e era que tem horas que a gente precisa parar de ser bom com os outros e precisa aprender a ser bom primeiramente - com a gente. 

Finais – exasperantes ou não – fazem parte desse ciclo chamado vida, e quiçá, isso seja uma dádiva, porque só cabe o que é novo quando se esvazia o lugar que o que é velho ocupa. Chegadas e partidas, é disso que a vida é feita e talvez seja por isso que ela valha tanto a pena.


*Escrito em setembro de 2012 - (Mas poderia ser hoje)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Cada um cria pra sua vida o fantasma que quer




-Quem é o moço da foto?
- O senhor não conhece?
- Parece um rosto conhecido, mas não sei quem é, bonito ele.
- Imagine pai, poderia ter sido seu filho.

 (e foi, mas o Alzheimer não permitia que ele se lembrasse disso.)

-Sabe moça, faz muito tempo que não assino nada, como é mesmo que se escreve meu nome?
- J-O-Ã-O, faça bem devagar, não te problema, quer que eu faça num papel pra você copiar?
- Sim, João da Silva Reis, eu só não lembro muito bem como é que se faz as letras, sabe moça, faz muito tempo que eu não assino nada.
- Então vamos lá seu João, em cima da linha, vamos começar?
- Sabe moça, é que faz muito tempo que eu... Quem escreveu João? Ah, fui eu, sim fui eu. Eu era um homem muito forte e saudável, fazia coisas de madeira, tipo portas, janelas e móveis, eu esqueci como chamam as pessoas que fazem essas coisas.
- Marceneiro pai, você era marceneiro.
- Então moça, era isso que eu fazia mas agora não faço mais, me dói o ombro e também está frio demais e além do mais... eu preciso assinar? Já faz muito tempo que não assino nada.

A moça sabia de parte da história, ele era um fantasma na história de alguém, mal sabia porque estava ali, acerto de contas, sabe? A filha que o trouxera, tinha suas culpas e medo de arrumar alguns fantasmas para si, disse que se dava pra acertar as contas nessa vida melhor não deixar pra próxima.

E a moça, embora um pouco triste, sentiu-se presenteada de poder servir de instrumento para esse pequeno acerto de contas, porque por mais triste que toda a história fosse, era de grande aprendizado, e tinha que estar com a alma e o coração bem aberto para conseguir entender, e ela estava.

Tem fantasmas que não dá pra evitar, mas os que a gente consegue, é bom engolir o orgulho e mandar embora logo de uma vez.
Consertar as coisas, não deixar acumular, eliminar o dito pelo não dito, o dito demais, o dito na hora errada, acabar com os afastamentos que só geram fantasmas.
Depois que para de doer a gente normalmente encontra os porquês. Mas a vida é assim, tem que passar pela dor pra encontrar o sentido.
O que não pode, é ficar carregando fantasmas, porque daí a vida fica pesada, a gente passa a regar a vivência com lágrima e tristeza.
Desde que ela viu como vez ou outra as pessoas podem ser más, e como essa maldade pode afetar quem está ao redor - como dói e assusta - ela está empenhada em consertar as coisas, tudo que possa ter feito de errado e que talvez atingiu o outro negativamente. Tudo isso pra não criar fantasmas na vida sem precisar, é como disse a moça: se dá pra ir zerando a conta nessa vida, melhor não deixar pra próxima. Tempos de passar a régua.

- Quem é o moço da foto?
- Um fantasma pai, apenas um fantasma.
- Eu preciso assinar? Faz muito tempo que não assino nada...