terça-feira, 8 de julho de 2014

Solidão a dois - Das cartas não enviadas

- Eu sinto sua falta.
- Como você sente minha falta se eu estou ao seu lado todos os dias?
- Essa não é você. Não a"minha você".
É uma estranha que não se parece em nada com a minha menina doce.

Eu quis meu bem, eu juro que nessa hora quis abrir meu coração, te dar um abraço bem forte, e grande, daqueles que cabem o mundo dentro. Sentar no seu colo e te dizer que está tudo bem, sua menina está aqui, com todo amor e carinho que ela lhe tem e que sempre te fez tão bem.
Mas eu não pude. Eu não posso.
Como te explicar que tem coisas na vida que não podem ser unilaterais?
Durante tanto tempo venho aceitando isso: dar tudo de mim e aceitar em troca só o pouco que você está disposto a me dar. 
É bem triste pensar que houve um tempo em que me bastou, me satisfez.  Imensamente feliz com ninharia.
Eu gostava verdadeiramente de nossas tardes risonhas, preenchida com conversa boa e boba jogada fora. Do gosto bom da descoberta. De saber-te tão igual a mim em tantas coisas, das risadas sinceras, de te contar das minhas dores, dos meus amores e de ouvir dos caminhos por onde você andou, de quanto a vida também já te feriu.
Gostava de te paparicar, te mimar, que eu sou assim mesmo, uma menina que gosta de cuidar, mesmo que fosse comprando aquela bala que você gosta só pra você ter certeza que lembrei de você quando estávamos longe. Eu te cuidava por (te) gostar, simples assim.
Mas então, chegou o dia que quem precisou de cuidados fui eu. Tão cansada, tão frustrada, tão pequena. Você não me cuidou, aliás, você nem notou, tão acostumado a me ver feliz com tuas migalhas. Você, um menino tão sensível, como pode não notar que eu andava também toda sensível?
Foi patética a coisa toda,  e eu de repente me dando conta que durante esse tempo todo vivi do sozinha o que era pra ser nós. Consegue imaginar o quão frustrante e dolorido isso pode ser?
Você nunca me viu de verdade, e sei que tenho minha parcela de culpa nisso, porque aceitei e engoli todos os seus cancelamentos de ultima hora, todas as suas desculpas esfarrapadas e todas as vezes que meus olhos te pediam "me ame", aceitei como resposta os seus me dizendo "hoje não dá, amanhã quem sabe". 
Você fez comigo unicamente o que eu deixei que você fizesse e hoje, me odeio por isso.
Tanto tempo a base de migalhas, estou desnutrida,  esquálida,  não tenho mais o que lhe oferecer. Não, sem que faça falta pra mim. E é por isso querido, só por isso, que não posso  abrir meu coração, te dar um abraço bem forte, e grande, daqueles que cabem o mundo dentro, sentar no seu colo e te dizer que está tudo bem.
Embora o ouvido do seu coração esteja surdo as gritantes batidas do meu, os meus olhos já não estão assim, tão cegos para você, sua menina doce, azedou.
É que eu não sou uma qualquer, meu benzinho. Nem mesmo pra você. Nem mesmo pra você.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre o amor que acabou, mas não termina

-E fulano, como anda?
Falei querendo parecer blasé, como se falasse do clima de Curitiba, sempre tão inconstante, ou mesmo do preço do tomate, que outra vez anda nas alturas.
Bobagem. 
Meu coração acelerou, se prestasse atenção, o interlocutor talvez até notasse a minha voz um pouco tremida, porque sim, eu quero muito saber de você.
Quero saber o que anda fazendo, se tem novos amores, se está feliz, se sente minha falta, se você me reconheceria ao me encontrar no shopping, aliás, se você ainda odeia shoppings, e se você ainda toma café só com metade do pacote de açúcar, porque toda vez que eu peço adoçante, ao invés de açúcar eu me lembro de que tirava sarro de você, que largava pacotes de açúcar pela metade.
Mas me dizem pouco de você, você emagreceu um bocado, tem a mesma rotina instável, e eu me seguro pra perguntar do seu cheiro, se quando você chega o seu cheiro ainda se espalha pelo andar inteiro, estou até meio desligada quando a informação que eu queria chega:
-apareça visita-lo, ele anda triste, desde que você se foi, ele nunca mais foi o mesmo.
Respiro fundo.
E respiro de novo. 
Ajo como se fosse um assunto enfadonho, que sequer merecesse minha atenção. 
Respiro outra vez, porque sinto a cabeça rodando. 
E então procuro me ater a realidade, nós dois já somos passado, já não há aquela querência desmedida e aquela urgência pelo seu corpo, e talvez eu só sinta tanto a sua falta porque me habituei a ter você na minha vida -e como bem se sabe, alguns hábitos nos dominam tanto que parecem estar grudados nas nossas vísceras.
Hoje você é essa amizade cheia de formalidades e dedos, feita de ligações nos aniversários e no final de ano. Triste. 
Você que foi tanto na minha vida, que teve mais espaço no meu coração do que um dia eu pensei em autorizar, virou essa tristeza que me bate quando ouço de você e da sua vida por bocas alheias.
Talvez eu nem queira muito mais do que isso, talvez eu queira que essa história que me consumiu e me doeu por tanto tempo, apenas tenha um ponto final. Ou quem sabe apenas saber que eu ainda tenha um pedaço meu dentro de você, como você tem (e talvez sempre terá) aqui em mim. Ou ter a certeza que eu ainda apareço nos seus pensamentos –ainda que contra sua vontade. Ou conseguir de uma vez por todas fazer desse amontoado de lembranças perfuro cortantes algo bonito, apesar da dor e dos desencontros. Deixar que você se vá, para então falar de você como quem fala da alta da gasolina e do feijão. É, é isso.
-Bom saber que estão todos bem, mande lembranças. Pois é, uma loucura esse tempo, nem me fale de preço, nossa um absurdo...

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Paradoxais

"Eu gosto de ficar só, mas gosto mais de você."*

Ele acha extremamente sexy a minha calça social preta, mas questiona a necessidade de sair vestida como uma perfeita perigueti. Meu desgaste começa quando tento explicar que uma calça social preta não tem nada de sexy pra maioria dos homens, e que o casaco azul turquesa só chama tanta atenção porque minha pele é branca feito sei lá o quê. Ele não entende. Não aceita. Resolve implicar com o perfume, com o brinco, com o que puder.
Ele tem  uma atração ímpar pelo meu celular. Todos os dias, o tempo todo, quando vejo lá está ele fuçando e revirando meus SMS'S, whats app, ligações, bate papo do facebook,  e toda essa parafernália de comunicação que eu tenho.  T-U-D-O, tudinho.
O amor dele alimenta-se de paranóia. Consome-se em ciúmes. Autofagista.
Ele sente desconforto com todos meus amigos, não consegue entender como tenho paciência pra tanta socialização, e acha que todo amigo esconde um potencial amante-casinho-ficante. Na cabeça dele já dei pra todos, ou tenho pretensão de dar. Pura insegurança.
Reclama do tempo que eu perco na internet, e também reclama do tempo em que eu me perco em meus livros, reclama das minhas pinturas, e de tudo que eu faço e que não o inclui.
Disse que sou dessas pessoas que não faz sentido algum, que emano alegria e alto astral mas tenho essa maldita obsessão por tudo que é triste e melancólico. E que isso confunde-o mais do que poderia admitir vindo de uma mulher. Se irrita com minhas músicas tristes, meus filmes tristes, e recusa-se a me dar amor se eu estiver triste, tamanha repulsa sente pela tristeza.
Fez cena quando me disse algo sobre nosso caso e eu de pronto rebati que não pode de forma alguma ser um caso, já que não existe os elementos mínimos necessários, incluindo sexo habitual. Ficou magoadinho, disse que as coisas não são bem assim, que eu vivo cortando-o, e que se eu quiser o outro lado do rosto dele pra bater, está todo a minha disposição.
Dia desses me disse que exalo sensualidade por todos os poros, e que isso o excita, e que também o enlouquece. Que tem ganas de terminar tudo cada vez que imagina eu sorrindo, sensual, feliz, para outro. E que então ele lembra que foi esse mesmo sorriso que o conquistou e lembra-se da menina de cabelos esvoaçantes, saias longas e riso largo que eu fui um dia. A menina a quem ele aprendeu amar, primeiro como amiga, depois como mulher. A vontade de terminar termina, nós não.
Ele é meu maior stalker, e eu não to nem aí pra isso. Não que não esteja para ele. É justamente o oposto. Enquanto ele perde tempo alimentando as paranóias eu passo meu tempo tentando manter a sanidade e os muros que me protegem.
 Ele acha que eu não sinto ciúmes, mas não faz ideia do tamanho do orgulho que existe aqui dentro e me impede de admitir que sim, eu sinto, e é muito. Quando me canso de seus surtos eu digo que não o quero mais, caio na esbórnia pagando de super bem resolvida, "não quer tem quem queira, além de que, a fila anda benzinho". Balela. Não nasci com vocação pra ser biscate. E além de tudo, embora às vezes seja o que mais quero, não sei mais viver sem ele. Dançaria tango no teto se assim ele me pedisse. Tudo que faço é para mantê-lo aqui. Se ele souber o quanto lhe quero, deixará de me querer. Game over jogo de sedução, the end  jogo da conquista. E eu, viciada nesses jogos, gosto o suficiente pra não deixa-los terminar.
Tivesse eu menos orgulho, diria a ele que seu cheiro me põe louca, que o gosto do beijo dele é único, que cada vez que ele passa pela porta, meu coração quase pula pela boca e que o tanto que eu nego meu amor por ele é o tamanho do amor que sinto.
Tivesse ele mais equilíbrio, me pediria pra ser menos expansiva, acalmar suas inseguranças e fazê-lo sentir-se amado e só. Tudo extremamente simples. Talvez tivéssemos, teríamos tido.
Ele tem razão quando diz que não preciso dele pra viver. Eu não preciso. O que ele ainda não descobriu, é que embora eu não precise, é o que eu mais quero.
 
*Trecho da música Sem você - Arnaldo Antunes