segunda-feira, 7 de julho de 2014

Sobre o amor que acabou, mas não termina

-E fulano, como anda?
Falei querendo parecer blasé, como se falasse do clima de Curitiba, sempre tão inconstante, ou mesmo do preço do tomate, que outra vez anda nas alturas.
Bobagem. 
Meu coração acelerou, se prestasse atenção, o interlocutor talvez até notasse a minha voz um pouco tremida, porque sim, eu quero muito saber de você.
Quero saber o que anda fazendo, se tem novos amores, se está feliz, se sente minha falta, se você me reconheceria ao me encontrar no shopping, aliás, se você ainda odeia shoppings, e se você ainda toma café só com metade do pacote de açúcar, porque toda vez que eu peço adoçante, ao invés de açúcar eu me lembro de que tirava sarro de você, que largava pacotes de açúcar pela metade.
Mas me dizem pouco de você, você emagreceu um bocado, tem a mesma rotina instável, e eu me seguro pra perguntar do seu cheiro, se quando você chega o seu cheiro ainda se espalha pelo andar inteiro, estou até meio desligada quando a informação que eu queria chega:
-apareça visita-lo, ele anda triste, desde que você se foi, ele nunca mais foi o mesmo.
Respiro fundo.
E respiro de novo. 
Ajo como se fosse um assunto enfadonho, que sequer merecesse minha atenção. 
Respiro outra vez, porque sinto a cabeça rodando. 
E então procuro me ater a realidade, nós dois já somos passado, já não há aquela querência desmedida e aquela urgência pelo seu corpo, e talvez eu só sinta tanto a sua falta porque me habituei a ter você na minha vida -e como bem se sabe, alguns hábitos nos dominam tanto que parecem estar grudados nas nossas vísceras.
Hoje você é essa amizade cheia de formalidades e dedos, feita de ligações nos aniversários e no final de ano. Triste. 
Você que foi tanto na minha vida, que teve mais espaço no meu coração do que um dia eu pensei em autorizar, virou essa tristeza que me bate quando ouço de você e da sua vida por bocas alheias.
Talvez eu nem queira muito mais do que isso, talvez eu queira que essa história que me consumiu e me doeu por tanto tempo, apenas tenha um ponto final. Ou quem sabe apenas saber que eu ainda tenha um pedaço meu dentro de você, como você tem (e talvez sempre terá) aqui em mim. Ou ter a certeza que eu ainda apareço nos seus pensamentos –ainda que contra sua vontade. Ou conseguir de uma vez por todas fazer desse amontoado de lembranças perfuro cortantes algo bonito, apesar da dor e dos desencontros. Deixar que você se vá, para então falar de você como quem fala da alta da gasolina e do feijão. É, é isso.
-Bom saber que estão todos bem, mande lembranças. Pois é, uma loucura esse tempo, nem me fale de preço, nossa um absurdo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário