sexta-feira, 27 de junho de 2014

Das coisas que precisam morrer




Quis então, como nunca antes quisera, que se fechasse a conta.
Passar a régua, ponto final, nada dessa chateação de reticências eternas.

Eis um segredo para a vida: pra continuar vivo, precisamos morrer. Morrer aos poucos, morrer em pedaços, morrer daquilo que sente, morrer de algumas pessoas, morrer das dores, morrer das impossibilidades, morrer do que já não serve mais, morrer e enterrar, encarar o luto e seguir em frente.

Ela sabia que no inverno as pessoas ficavam mais tristes.

Não, não se incomode. Isso acontece comigo de vez em quando, é que o tempo é um sujeitinho muito irônico, ele vem e muda o que considerávamos imutáveis sem pedir licença ou por favor. Tudo no susto. Ele passou por aqui e agora ando nua de certezas.

Ela sempre acreditou que as palavras ditas, ou aquelas ditas da pior maneira possível eram as que mais doíam, com surpresa, descobriu que o que mais dói é aquilo que não é dito.
Olhares silenciosos são assassinos soltos por aí e ninguém nem desconfia.

Sim, meu peito anda apertado de cansaços, tristezas e impossibilidades. Não sei como morrer para elas. Dói, dói sem pausas, dói desastrosamente.

Tinha dúvidas se ainda era capaz de renascer, queria voltar mas os pés lhe doíam e talvez já nem soubesse como, nem mesmo por quê.

Já morri incontáveis vezes, sei bem que dói de um tamanho que nem sei explicar, mas até hoje, eu sempre soube voltar.

Quis dar ouvidos a sabedoria popular: o que não tem respostas, respondido está.

-Garçom, fecha a conta da minha vida por favor?









FIM.









(Ou não)

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O amor, esse filho da puta.



- Em nome de quê tudo isso?
Todas essas palavras, esses textos,
esses sentimentos, essa intensidade tamanha.
Para quê?
Silêncio...
- Me fale, quero saber vindo de você.
- Tire as conclusões que quiser.
- Quero ouvir saindo da sua boca.
- Eu, eu... Eu não sei.
Você sabe, apenas se recusa a admitir.
Todas as suas linhas, subliminarmente dizem que é em nome do amor.*

Talvez seja só isso mesmo. Quatro letras que definem a minha vida, minhas querências e carências, minhas tristezas e minha alegrias, minha capacidade absurda de estar no topo do mundo, feliz, e cinco minutos depois no mais profundo buraco da depressão. É o amor que me coloca em mundos tão diferentes, um todo feito de poesia e gosto bom de vida que é possível e outro todo de lágrimas e sabor de vinagre que de vez em quando só o amor é capaz de ter.
Esse mesmo amor que me faz rodopiar de olhos fechados no décimo quinto andar e ter aquela sensação única de estar viva é o mesmo que me atira desse décimo quinto andar direto para o purgatório.
Essas, talvez sejam a melhores explicações para essa minha vontade maluca de fugir correndo do amor: Eu tenho medo.
Além de tudo, sou péssima com essa coisa de baixar a guarda e deixar que o outro me veja assim, inteira, sem nem uma gota de faz de conta. Piora a situação se envolve deixar alguém entrar aqui do lado de dentro. Já aconteceu antes, e eu me machuquei. É uma dor que conheço bem, ela chega, invade, toma conta de tudo e não vai embora assim tão fácil. Eu já me machuquei bastante, é daí que ele vem, o medo.
Mas, contraditória que sou, enquanto minha vontade me manda correr e fugir pra bem longe, o meu coração, quase saindo pela boca, só sabe me fazer lembrar do abraço, da entrega, do sentimento bonito que nasce de instantes pequenos: o amor.
E eu não sei o que fazer. Eu não sei o que me permitir. Eu não sei nem o que sentir. A isso fico reduzida, um amontoado de dúvidas, confusões e impossibilidades. Coloco em dúvida a existência do amor, me dividido entre um talvez e uma tal vez.
Enquanto isso o amor me chama, atraente, de bracinhos abertos. Olho pra ele e quase me entrego, mas lembro de sua outra face e me inundo de uma certeza: as lágrimas que já derramei em nome do amor ainda não foram suficientes. Amor, esse filho da puta sedento.
É em nome dele, admito, pequena, rendida e com um pouco de pesar: todos esses sentimentos, esses textos, essa intensidade, eu e minha vida inteira. É sim, tudo em nome do amor, esse que é meu salvador ou minha completa total e completa destruição, ele e seus "nós", que me atam e geralmente são daqueles de marinheiro que é só com tempo, dedicação, perseverança e muita paciência é que desata. Enquanto não, desenrolo em palavras e mantenho guarda alta, nocaute, aqui não amor. 
Aqui não.