quinta-feira, 3 de julho de 2014

Paradoxais

"Eu gosto de ficar só, mas gosto mais de você."*

Ele acha extremamente sexy a minha calça social preta, mas questiona a necessidade de sair vestida como uma perfeita perigueti. Meu desgaste começa quando tento explicar que uma calça social preta não tem nada de sexy pra maioria dos homens, e que o casaco azul turquesa só chama tanta atenção porque minha pele é branca feito sei lá o quê. Ele não entende. Não aceita. Resolve implicar com o perfume, com o brinco, com o que puder.
Ele tem  uma atração ímpar pelo meu celular. Todos os dias, o tempo todo, quando vejo lá está ele fuçando e revirando meus SMS'S, whats app, ligações, bate papo do facebook,  e toda essa parafernália de comunicação que eu tenho.  T-U-D-O, tudinho.
O amor dele alimenta-se de paranóia. Consome-se em ciúmes. Autofagista.
Ele sente desconforto com todos meus amigos, não consegue entender como tenho paciência pra tanta socialização, e acha que todo amigo esconde um potencial amante-casinho-ficante. Na cabeça dele já dei pra todos, ou tenho pretensão de dar. Pura insegurança.
Reclama do tempo que eu perco na internet, e também reclama do tempo em que eu me perco em meus livros, reclama das minhas pinturas, e de tudo que eu faço e que não o inclui.
Disse que sou dessas pessoas que não faz sentido algum, que emano alegria e alto astral mas tenho essa maldita obsessão por tudo que é triste e melancólico. E que isso confunde-o mais do que poderia admitir vindo de uma mulher. Se irrita com minhas músicas tristes, meus filmes tristes, e recusa-se a me dar amor se eu estiver triste, tamanha repulsa sente pela tristeza.
Fez cena quando me disse algo sobre nosso caso e eu de pronto rebati que não pode de forma alguma ser um caso, já que não existe os elementos mínimos necessários, incluindo sexo habitual. Ficou magoadinho, disse que as coisas não são bem assim, que eu vivo cortando-o, e que se eu quiser o outro lado do rosto dele pra bater, está todo a minha disposição.
Dia desses me disse que exalo sensualidade por todos os poros, e que isso o excita, e que também o enlouquece. Que tem ganas de terminar tudo cada vez que imagina eu sorrindo, sensual, feliz, para outro. E que então ele lembra que foi esse mesmo sorriso que o conquistou e lembra-se da menina de cabelos esvoaçantes, saias longas e riso largo que eu fui um dia. A menina a quem ele aprendeu amar, primeiro como amiga, depois como mulher. A vontade de terminar termina, nós não.
Ele é meu maior stalker, e eu não to nem aí pra isso. Não que não esteja para ele. É justamente o oposto. Enquanto ele perde tempo alimentando as paranóias eu passo meu tempo tentando manter a sanidade e os muros que me protegem.
 Ele acha que eu não sinto ciúmes, mas não faz ideia do tamanho do orgulho que existe aqui dentro e me impede de admitir que sim, eu sinto, e é muito. Quando me canso de seus surtos eu digo que não o quero mais, caio na esbórnia pagando de super bem resolvida, "não quer tem quem queira, além de que, a fila anda benzinho". Balela. Não nasci com vocação pra ser biscate. E além de tudo, embora às vezes seja o que mais quero, não sei mais viver sem ele. Dançaria tango no teto se assim ele me pedisse. Tudo que faço é para mantê-lo aqui. Se ele souber o quanto lhe quero, deixará de me querer. Game over jogo de sedução, the end  jogo da conquista. E eu, viciada nesses jogos, gosto o suficiente pra não deixa-los terminar.
Tivesse eu menos orgulho, diria a ele que seu cheiro me põe louca, que o gosto do beijo dele é único, que cada vez que ele passa pela porta, meu coração quase pula pela boca e que o tanto que eu nego meu amor por ele é o tamanho do amor que sinto.
Tivesse ele mais equilíbrio, me pediria pra ser menos expansiva, acalmar suas inseguranças e fazê-lo sentir-se amado e só. Tudo extremamente simples. Talvez tivéssemos, teríamos tido.
Ele tem razão quando diz que não preciso dele pra viver. Eu não preciso. O que ele ainda não descobriu, é que embora eu não precise, é o que eu mais quero.
 
*Trecho da música Sem você - Arnaldo Antunes

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